A criação de um Catálogo Digital de Alimentos, que disponibilize de forma simples, intuitiva e centralizada a composição nutricional de alguns dos principais produtos alimentares disponíveis, constitui hoje uma necessidade estratégica em Portugal.

A inexistência, no panorama nacional, de uma plataforma pública abrangente, atualizada, comparável com outras semelhantes e metodologicamente padronizada, dificulta o acesso a informação de qualidade tanto por parte dos consumidores como dos profissionais de saúde.

Assim, a implementação de um catálogo desta natureza representa não apenas um avanço tecnológico, mas sobretudo um instrumento relevante para a saúde pública, para a literacia alimentar e para a autonomia do cidadão.

Democratização da informação nutricional e inclusão de consumidores com diferentes níveis de literacia

Em Portugal, a literacia em saúde e a literacia alimentar apresentam variações significativas entre grupos populacionais. Parte considerável da população revela dificuldades na interpretação de rótulos, na avaliação crítica de alegações nutricionais e na compreensão de ingredientes tecnicamente relevantes para a sua saúde. Um catálogo digital com interface acessível e linguagem clara — mas cientificamente rigorosa — permite ultrapassar estas assimetrias, permitindo que qualquer consumidor compare produtos de forma direta, e identifique nutrientes críticos (como sal, açúcares e gorduras saturadas) podendo selecionar opções alinhadas com necessidades individuais, restrições clínicas ou objetivos alimentares.

Esta democratização da informação é particularmente relevante num contexto em que as escolhas alimentares são fortemente condicionadas por fatores socioeconómicos, pelo marketing alimentar e por limitações de literacia. Uma plataforma centralizada contribui, assim, para a capacitação e autonomia do consumidor, reduzindo desigualdades no acesso a informação fiável.

Relevância para profissionais de saúde e para a prática clínica e de investigação

Nutricionistas e médicos dependem de dados de composição nutricional dos alimentos para planear intervenções personalizadas, monitorizar progressos e apoiar decisões clínicas, definir a seleção de alimentos a disponibilizar em espaços educativos ou sessões de educação alimentar entre outras atividades.

Na ausência de uma base nacional para produtos alimentares individualizados, estes profissionais tendem a recorrer a analisar manualmente rótulos físicos (que não abrangem coleções de produtos comparáveis); bases de dados que não identificam marcas, bases de dados internacionais cujos produtos não correspondem ao mercado português, ou compilações dispersas em websites dispersos.

Um catálogo digital nacional permite acesso rápido e padronizado à informação de produtos disponíveis à venda em Portugal e com atualização regular dos dados. Esta atualização e comparabilidade no tempo, por exemplo a cada 2 anos, permite o reforço da investigação académica e epidemiológica, ao fornecer dados estruturados, interoperáveis e compatíveis com metodologias internacionais que permitem avaliar a evolução da oferta alimentar no nosso país, por exemplo.

Transparência, confiança e literacia crítica

A centralização e disponibilidade imediata de informação sobre a composição nutricional aumenta a transparência no sistema alimentar, facilitando também a monitorização externa do mercado por académicos, entidades reguladoras e organizações da sociedade civil. Um catálogo digital permite escrutinar os níveis de reformulação de produtos ao longo do tempo e o cumprimento de políticas nutricionais (como metas para o teor de sal ou açúcar), por exemplo.

Este catálogo adiciona ainda duas ferramentas de rotulagem nutricional simplificada, validadas internacionalmente e amplamente utilizadas em diversos países, que permitem classificar produtos alimentares pré-embalados com uma escala cores para ajudar os consumidores a fazer escolhas alimentares mais saudáveis. São ferramentas de saúde pública, calculadas com base na composição nutricional dos alimentos, permitindo uma comparação rápida da qualidade nutricional entre produtos da mesma categoria.

Ao tornar esta informação facilmente acessível, fortalece-se a literacia crítica e a confiança pública, reduzindo a vulnerabilidade dos consumidores (em particular os mais frágeis socialmente) a práticas de marketing enganadoras ou à proliferação de desinformação alimentar.